Tea party


O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair foi entrevistado para a BBC, em Dezembro de 2009. A conduzir a entrevista estava Andrew Marr, editor de política da cadeia de televisão inglesa. Num rápido lamiré pela blogosfera, muitos dos que abordaram este acontecimento sentiram-se agonizados pela falta de perguntas cruciais do jornalista e sobretudo pelo seu "watermelon smile".
Da percepção que tive, o jornalista não foi demasiado acutilante mas também não foi caso de dar total e completa anuência às palavras de Blair. E, não obstante terem sido tratados assuntos tão basilares como a aliança para a invasão do Iraque ou a relação conturbada com Gordon Brown, não posso deixar de notar duas coisas: uma pergunta e um comentário.
Marr trouxe ao primeiro plano a questão da riqueza de Blair, tendo em vista apurar as intenções do ex-governante que resolveu doar a totalidade das receitas do seu livro à Legião Britância, numa tentativa de homenagem ao esforço desempenhado em terreno bélico. Para além da dúvida óbvia de se este gesto se trata de uma homenagem ou um pedido de desculpas, o jornalista interrogou Blair directamente: É rico? Quão rico? Que propriedades tem? Oito, nove, dez?
À parte disso, o jornalista pergunta directamente ao trabalhista se ele é ou não um conservador. Isto porque, e na óptica do próprio Marr, algumas políticas sociais tomadas por Blair podiam facilmente ser subscritas pelo recém-eleito David Cameron.
Apesar da questão política e ideológica inerente, a performance jornalística absove-me a atenção. Sendo o desempenho de Andrew Marr fraco e pouco subserviente para a opinião pública britânica, interrogo-me de que postura tomaria a opinião pública ( e interessada) portuguesa se uma Judite ou Clara de Sousa, um Rodrigo Guedes ou um José Alberto Carvalho perguntassem a José Sócrates para discriminar a sua riqueza ou lhe dissessem abertamente que algumas das suas políticas sociais se confundem com os partidos mais à direita. Sem insinuações, nem farpas silenciosas, nem sugestões de que o que faz é absurdo (como é mais nosso apanágio).
Esta entrevista passou hoje na SIC Notícias, no programa (se é que pode ser assim chamado) Toda a Verdade.

1 comentário:

  1. O Blair é um paradoxozinho... Em relação à pergunta pessoal sobre a riqueza acho descabido. Não vi a entrevista mas lembro-m d ler coisas sobre isso. Não sei o quão ele foi subserviente, mas em Portugal, na minha opinião, falta aos jornalistas inteligência e genitália masculina. Salvo erro a última, foi com o Tavares, e aquilo mesmo assim foi das melhores.

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