"É bom voltar a Portugal, mas, pelo menos no aeroporto de Lisboa, há uma conspiração, entre os motoristas de táxis, para que não seja. Entre as cinco e as sete da tarde, quando faltam táxis no centro da cidade, ajuntam-se no aeroporto dezenas de táxis, durante duas horas ou mais, à espera que lhes caia a sorte grande de uns passageiros que queiram seguir para Cascais ou para Fátima. Se acaso lhes calha um lisboeta – que queira ir para o Rato ou Alvalade, acometem-se de paroxismos de raiva e de ódio, protestando que estiveram na bicha para nada. É uma forma de jogo. Caso lhes saia na rifa uns turistas que vão para a Avenida de Berna ou uns indígenas que regressam à morada no Areeiro, amaldiçoam-nos com todos os dentes que lhes vampirizam a boca. Anteontem fomos nós, chegados de Paris para ir jantar com amigos nossos à Churrasqueira do Campo Grande. O motorista passou-se. Repetia psicoticamente: “Churrasqueira do Campo Grande!”. Disse que preferia ter partido uma perna a levar-nos. Que só ganhava um euro com a corrida. Que o dia tinha sido um inferno. Quando protestámos, explicando os azares e os cancros que nos tinham internado, ele insistiu: “Quem me dera! Palavra de honra!” Era sincero. Pediu desculpa por desabafar. Entendemo-nos. Ele estragou-nos o regresso a Portugal. Nós estragámos-lhe a chegada ao aeroporto. Estávamos quites. Partimos não digo amigos, nem cúmplices – mas, apesar de tudo, inevitavel mas infelizmente, compatriotas."
Como te compreendo, Miguel.
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