Chá Vermelho


O homem que diz fugir à escola de cinema para se se sentar nas suas salas, faz da sua última obra um elogio à arte fílmica. É conhecido o amor a Goddard - ou não se chamasse a sua produtora A band apart. A própria divisão do filme em capítulos faz lembrar o realizador francês, nomeadamente em Vivre sa vie. As marcas do cinema, no cinema de Tarantino, persistem, ainda que nem sempre assumidas. Veja-se o plano da fuga da judia Shosanna, logo no ínicio do filme que alude ao western The Searchers, de John Ford. O nome do realizador alemão G. W. Pabst ouve-se muitas vezes. Tarantino gosta de filmes.

Mais do que as marcas do cinema, existem as marcas Tarantino.
Fica o aperitivo: Sangue que escorre de tiros e bastonadas ou escalpes de nazis arrancados à faca; apresentações de personagens com um grafismo quase de banda-desenhada; diálogos carregados de palavras que não pesam.
A ver, duas cenas: o jogo de palavras, quase infantil, entre os basterds infiltrados e o major nazi e uma cinderela inesperada entre o Coronel Hans Landa que, qual príncipe encantado, calça um sapato perdido à acriz/agente dupla Bridget von Hammersmark.

Num filme em que se vislumbram as caras do dono de um conhecido cão polícia (Gedeon Burkhard) e até um geek da série Freaks and Geeks (Sam Levine), os dois grandes nomes a ecoar neste filme são Christoph Waltz , com o Coronel Hans Landa e Mélanie Laurent, na pele de Shosanna Dreyfus.
Do primeiro, Tarantino disse que se não o tivesse, não fazia o filme. Não se enganou. O coronel embála-nos num diálogo socrático, em que a resposta já esta incluída na pergunta e seduz-nos com a sua simpatia que, em três tempos, se converte numa carnificina imediata, em alguns momentos chega cómica.
Já a Mélanie, deve-se a fotogenia dos grandes planos e a profundidade histórica do filme. Tarantino faz dela heroína e mártir e como prémio dá-lhe um cinema para gerir.

Inglorius Basterds não é um filme de guerra. É um filme sobre o poder do cinema, que é capaz de mudar o curso da Segunda Guerra Mundial e até matar Hitler.
Quentin Tarantino fez bem em viver dentro das salas de cinema.

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