Café Amarelo

«A minha mulher começou a andar de peruca e está de tal forma uma brasa que os próprios sobrinhos, quando lhes mandei uma fotografia da tia, responderam-me com 'kem és tu?', pensando que era alguma gaja gira a meter-se com eles. (...) A peruca é japonesa e hi-tech e já me está a tramar a vida.(...)
São os outros que pensam, quando me vêem com ela na nova peruca, que, mal descobri que tinha um cancro, arranjei outra. Houve um cozinheiro, muito nosso amigo, que chorou quando nos viu, sentados na nossa mesa do costume, a namorar. Disse ele: "E eu que gostava tanto do Sr. Miguel!"Como é tão boa pessoa como bom cozinheiro, até faz esparregado para ela, já que a quimioterapia altera um bocado os gostos.
Mas, quando o empregado lhe pediu, para além dos carapaus, um esparregado para nós os dois, ele atirou a colher ao chão e gritou: "Eu para essa não faço esparregado! Só para a Sra. Maria João!".
Como quem diz: este adúltero não só deixa a mulher, mal ela adoece, como tem lata de pedir, para as amásias, os petiscos que aliviam a doença da legítima!(...)
E ela não ajuda, porque diz sempre: "Deixa-te de fitas, querido. Tu sempre odiaste a tua mulher...".»

A louraça legítima, Miguel Esteves Cardoso, Público 11.09.09

1 comentário:

  1. Gostei, mas nunca li nada dele para ser franco.

    Já soubeste da nova dos CTT? Vão fazer selos com aromas e um dos escolhidos é o café!

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